Um dos temas mais urgentes que se apresenta na contemporaneidade é a necessária reflexão acerca das ações do ser humano sobre a vida no planeta. O Antropoceno, a era geológica protagonizada pela interferência do ser humano no processo evolutivo do planeta, parece ser um divisor de águas na continuidade ou não da vida da maioria das espécies sobre a Terra. O paradigma humanista, no qual a vida humana é alçada ao centro do universo, tendo a sua salvaguarda e melhoria contínua e exponencial como horizonte absoluto, ganha dimensões trágicas quando somado ao hiperdesenvolvimentismo colocado em movimento pelas sociedades ocidentalizadas, principalmente quando essas são fundamentadas no paradigma colonial-capitalístico (Suely Rolnik).

Talvez problematizarmos a hegemonia “naturalizada” do ser humano como referente primordial para a vida seja um importante passo político para desestabilizarmos os paradigmas fundantes das sociedades ocidentalizadas em busca por modos de vida “inteiramente outros” (Olgária Matos), os quais tornam possível um repensamento das formas de convivência coletiva entre os seres que compartilham o nosso planeta.

Neste sentido é que nos perguntamos sobre as contribuições que as artes podem trazer para essa discussão. Ou melhor, gostaríamos de nos perguntar aqui até que ponto as artes da cena contribuem para um tensionamento do paradigma antropocêntrico em direção a um real ponto de virada epistemológico. Como podemos incluir nos processos criativos da cena contemporânea a vida não-humana para além de uma perspectiva instrumental? Como podemos nos implicar epistemológica e poeticamente com as múltiplas espécies que compõem a nossa existência? Como as artes da cena podem colaborar com a reinvenção das possibilidades de vida entre as múltiplas espécies?

Com esse horizonte, a revista Ephemera, do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal de Ouro Preto – periódico eletrônico de acesso livre e sem taxas de submissão ou publicação, baseado na revisão cega por pares – recebe artigos e ensaios inéditos para comporem o dossiê “Cenas Multiespécies“. Devido à amplitude e complexidade do tema, propomos de partida uma chamada dupla, dividindo as contribuições em dois volumes temáticos:

O primeiro volume, intitulado “Forças Vegetais“, receberá contribuições até dia 15 de maio de 2023 e se dedicará à potência poética que as plantas trazem para os processos criativos nas artes da cena, assim como, seus saberes e capacidades de produzir mundos ao se relacionarem com os mais variados seres, humanos ou não.

O segundo volume, intitulado “Poéticas Animais“, receberá contribuições até dia 15 de julho de 2023 e abrirá espaços para as potencialidades que os animais, ou a dimensão animal, trazem para a reelaboração dos métodos e procedimentos de criação, bem como das dramaturgias da cena, na multiplicidade de elementos que a constituem.

Com isso, esperamos acolher uma ampla gama de contribuições inéditas que apresentem resultados de pesquisas no universo das artes da cena e de seus campos expandidos, visando circunscrever a diversidade de discussões sobre as ações artísticas que se acomunam nesse esforço multiespécies, potencializando e tensionando a vida em busca de outras raízes, substratos e, talvez, frutos.

Para a presente chamada dupla, portanto, os autores e autoras podem apresentar artigos que trabalhem com questões relacionadas à temática, considerando um ou mais dos seguintes tópicos, ou outros afins:

  • Teatro / Dança / Performance e as relações com seres mais que humanos;
  • Teatro / Dança / Performance com humanos e animais não humanos;
  • Teatro / Dança / Performance e composições com plantas;
  • Dramaturgias não humanas;
  • Teatro / Dança / Performance e o debate sobre o Antropoceno;
  • Teatro / Dança / Performance e suas implicações com as teorias da Ecologia Política; 
  • Contribuições críticas dos Animal Performance Studies;
  • Perspectivas afrocentradas nas artes da cena multiespécies;
  • Teatro / Dança / Performance e racismo ambiental;
  • Teatro / Dança / Performance, cuidado e a questão ambiental;
  • Cosmologias ameríndias e as relações performativas com plantas e/ou animais; 
  • Teatro / Dança / Performance, natureza e fabulações críticas; 

Lembramos ainda que a Revista Ephemera também recebe, em fluxo contínuo, artigos de temáticas variadas (Seção Fluxo) ligadas ao escopo central da revista, para publicação no mesmo número dos dossiês. Os artigos devem ser inéditos e resultantes de revisões bibliográficas, relatos de investigações e experimentações, pesquisas acadêmicas e reflexões criativas sobre processos contemporâneos de criação e sobre marcos históricos importantes nas artes cênicas, aceitando contribuições de autore/as nacionais e estrangeiro/as. Além disso, a Seção Acontece também aceita, em fluxo contínuo, contribuições em formatos variados: entrevistas, resenhas sobre livros e crítica de espetáculos, festivais, ensaios fotográficos e outras experiências visuais, etc. Pesquisadore/as, de todas as nacionalidades, podem enviar seus textos para avaliação a qualquer momento, não sendo necessário aguardar a chamada para a submissão de artigos.

Maiores informações podem ser encontradas em nosso website:

https://periodicos.ufop.br/ephemera

Nossas diretrizes para aceite e publicação podem ser visualizadas em “Diretrizes para Autores”, e devem ser seguidas:

https://periodicos.ufop.br /ephemera/about/submissions 

Idiomas aceitos: Português, Inglês, Espanhol e Francês.

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